quinta-feira, 24 de março de 2011

Formas variáveis da língua





Formas variáveis da língua


Classificações:


a) Culta.
b) Coloquial.
c) Regional.
d) Gíria.


Exemplos.


Diferentes linguagens.


Poesia e prosa.


Apresentação das formas variáveis da língua.
Importante é você perceber que a variação da linguagem ocorre em razão do receptor, do contexto e do tipo de informação que se quer  transmitir. Não vamos  chamar nenhuma  forma de expressão de  “certa” ou  “errada”: vamos observar  se está ou não adequada àquele receptor, ou ao contexto, ou ao assunto, combinado?
Sobre  esse  tema,  leia  um  trecho  de  palestra  proferida,  na Academia Brasileira de Letras, por um eminente gramático chamado Evanildo Bechara.


"E  agora,  para  terminar,  retomemos  o  nosso  tema  inicial  que  é  o
saber, a normal culta na democratização do ensino. O que vem a ser isso?
Vem a ser o seguinte. O professor deve convencer-se de que uma  língua
histórica (português, francês, espanhol), não é uma realidade homogênea
e  unitária;  ela  está  dividida  em  várias  línguas,  de  acordo  com  as
variedades regionais, as variedades sociais e as variedades estilísticas.
Cada variedade dessas  tem uma  tradição  lingüística e essa  tradição é
um modo correto, é uma maneira de correção da linguagem. Agora, todas

essas variedades lingüísticas confluem na língua exemplar, que é a língua
de  cultura.  Então,  a  língua  exemplar  não  é  nem  correta,  nem  incorreta,
porque  correto  na  língua  é  o  que  está  de  acordo  com  uma  tradição.  Se
existe,  por  exemplo,  uma  tradição  coloquial  que  diz  "chegar  em  casa",
esse é o padrão de correção na língua exemplar. Agora, o "chegar à casa"
já é uma eleição cultural, que é exclusiva da língua exemplar.
De  modo  que  quando  os  consultórios  gramaticais  dos  nossos  jornais
falam:  isto  está  certo,  isto  está  errado  -  na  realidade,  não  é  isso.  Cada
modo  de  dizer  tem  o  seu  padrão  de  correção;  entretanto,  todos  esses
padrões  convergem,  por  eleição,  a  uma  forma  exemplar.  Essa  forma
exemplar  é  a  forma  que  está  na  língua  literária,  quando  o  escritor  sabe
trabalhá-la artística, cultural e idiomaticamente.
Então, o que acontece? A democratização do ensino consiste em que o
professor  não  acastele  o  seu  aluno  na  língua  culta,  pensando  que  só  a
língua  culta  é  a maneira  que  ele  tem  para  se  expressar;  nem  tampouco
aquele  professor  populista  que  acha  que  a  língua  deve  ser  livre,  e
portanto,  o  aluno  deve  falar  a  língua  gostosa  e  saborosa  do  povo,  como
dizia  Manuel  Bandeira.  Não,  o  professor  deve  fazer  com  que  o  aluno
aprenda o maior número de usos possíveis, e que o aluno saiba escolher e
saiba  eleger   as  formas  exemplares  para  os  momentos  de  maior
necessidade,  em  que  ele  tenha  que  se  expressar  com  responsabilidade
cultural, política, social, artística etc.
E isso fazendo, o professor transforma o aluno num poliglota dentro da
sua  própria  língua. Como,  de manhã,  a  pessoa  abre  o  seu  guarda-roupa
para  escolher  a  roupa  adequada  aos  momentos  sociais  que  ela  vai
enfrentar  durante  o  dia,  assim  também,  deve  existir,  na  educação
lingüística, um guarda-roupa lingüístico, em que o aluno saiba escolher as
modalidades  adequadas  a  falar  com  gíria,  a  falar  popularmente,  a  saber
entender  um  colega  que  veio  do  Norte  ou  que  veio  do Sul,  com  os  seus
falares  locais,  e  que  saiba  também,  nos  momentos  solenes,  usar  essa
língua  exemplar,  que  é  o  patrimônio  da  nossa  cultura  e  que  é  o  grande
baluarte que esta Academia defende."

Você entendeu o texto, claro. Hoje, consideram-se as variações linguísticas como absolutamente aceitáveis, sempre com a ressalva de que a norma culta deve ser conhecida e observada em situações formais.

a) CULTA

A  norma  culta  é  aquela  que  deve  ser  empregada,  quando  em situações  formais,  ou  em  textos   científicos,  acadêmicos.  Não  se permite ambiguidade na linguagem formal: a objetividade deve ser
o principal traço desse uso da língua.

"A  supremacia  da  civilização  ocidental,  representada  pelo
império  norte-americano,  carece  de  medidas  e  atitudes  de  nível
planetário que evitem ao máximo o rastro de destruição deixado em
seu curso expansionista. Há a urgência de uma racionalidade outra
que a do americanizado  mundo contemporâneo.
Revista Cult, dezembro de 2001."

b) COLOQUIAL

Os objetivos na linguagem coloquial são outros: simplesmente se quer  conversar,  ou,  escrever  como  se  estivesse  conversando.  Há uma  descontração  presente  no  uso  da  língua;  não  se  trata  de cometer barbarismos contra a língua culta e, sim, adaptá-la, deixá-la mais pessoal. Na linguagem do dia-a-dia, por exemplo, podemos, usar  frases  como  “Você  pegou  o  que  eu  te  pedi?.  Formalmente, essa construção em que se misturam as pessoas gramaticais está inadequada:“você”  indica 3a pessoa  e  “te”  é  um  ronome  oblíquo que se refere a 2a pessoa ; o correto seria dizer "Você pegou o que eu lhe pedi?"

"A  Jô  e  a  irmã  dela  acreditam  que  um  vizinho  antropólogo
mora em frente ao prédio delas. Quando fazemos coisas absurdas,
tipo  ficar  brincando  de  tocar  percussão  ou  pulamos  sem  parar
gritando às 2h da manhã, alguma delas sempre disse. O vizinho não
deve  estar  entendendo  nada.  Ou...  essa  cena  deve  estar  sendo
super  importante para a  tese de mestrado dele. Na verdade, elas
nunca pensaram que poderia ser tipo um tarado se divertindo com
duas loucas pulando pela sala de camisola
Folhateen, fevereiro de 2002."


c) REGIONAL
Há, também, variações que são regionais. Expressões que são usadas  apenas  em  alguns  lugares  do  país,  formas  diferentes  de nomear  um  mesmo  objeto  ou  uma  mesma  situação.  Você, certamente,  já  observou  algumas  diferenças  linguísticas  ao  falar com um a pessoa de outro Estado ou, às vezes, no interior, na zona rural de um Estado em relação à  linguagem daquele que mora na zona urbana, enfim. Sobre esse aspecto das variantes linguísticas, leia mais um pouco da conferência de Evanildo Bechara:


"Afora  essa  dimensão  no  tempo,  esse  saber  idiomático  identifica
variedades  que  ocorrem  numa  língua  histórica,  isto  é:  variedades
regionais,  que  são  os  dialetos;  variedades  sociais,  que  são  os  estratos
sociais  falados  pelos  diversos  integrantes  de  uma  sociedade;  e  o  falar
regional, vale dizer, se um ato  lingüístico (palavra, expressão ou  frase) é
típico de uma região (por exemplo, o que no Brasil é trem, em Portugal é
comboio;  o  que  em  Portugal  se  opta  por  "estar  a  almoçar",  no  Brasil
preferimos  "estar  almoçando";  o  que  no  Rio  de  Janeiro  se  chama  "sinal
luminoso  de  trânsito",  em  São  Paulo  é  "farol",  mais  para  o  Sul,
"semáforo", e em Porto Alegre, "sinaleira")."

Vejamos outras variações: a média em São Paulo é “café com leite”; em Santos, é um “pãozinho”. Pãozinho, em Itu- SP, é filão; em São Paulo, capital é um “pão grande”.

Bem,  vamos  ler  um  exemplo  literário,  um  fragmento  do  conto “Bicho Mau” de Guimarães Rosa

"Seo Quinquim olhou,  também. Teria por gosto aproveitar uma  curta
folga. Colher um ananás? Não, dava muito trabalho. E estão azedos,
decerto, apertam na língua, piores do que o gravatás. Seo Quinquim
se mostra  alegre,. Às  vezes  banzativo,  ora  a  dar  um  ar  de  riso,  ele
está nos dias de ser pai. Não tardava mais uma semana..."

d) GÍRIA

A  gíria  é,  na  verdade,  uma maneira  de  um  grupo,  que  guarda afinidades quanto à ideologia, ou à faixa etária, ou à condição sócioeconômica,  enfim,  algum  tipo  de  traço  característico,  que  passa para  a  forma  de  expressão  lingüística.  Algumas  palavras  da  gíria passarão a compor nosso vocabulário, perdendo a identidade antes conferida apenas a um grupo. Veja um exemplo,  retirado de uma excelente questão de Vestibular, na qual se explorava os diferentes níveis de linguagem:

Massa

"Pó, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num
pedaço aqui na Sampa, quem sabe tu te anima e acha aí um point
pra botá o nome de Magdalena Tagliaferro, Cláudio Santoro (...) e
Radamés  Gnattali.  Esses  caras  não  foi  cruner  de  banda  a  la
“Trogloditas do Sucesso”, mas se a tua moçada não manjar quem
eles  foi,  dá  um  look  aí  na  Enciclopédia  Britânica  ou  no  Groves
International e tu vai sacá que o astral do século 20 musical deve
muito a eles."







Esse  texto  é  do  maestro  Júlio  Medaglia,  em  uma  carta publicada no Painel do leitor do jornal Folha de S.Paulo. Ele faz uso de  uma  linguagem  que  certamente  não  é  a  dele,  para  fazer  uma crítica  a  uma  decisão  da  então  prefeita  Luiza  Erundina  (melhor dizendo, aos administradores públicos em geral) que, em nome do populismo,  preocupam-se  em  dar  nomes  de  ídolos  populares  aos logradouros públicos.




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