Formas variáveis da língua
a) Culta.
b) Coloquial.
c) Regional.
d) Gíria.
Exemplos.
Diferentes linguagens.
Poesia e prosa.
Apresentação das formas variáveis da língua.
Importante é você perceber que a variação da linguagem ocorre em razão do receptor, do contexto e do tipo de informação que se quer transmitir. Não vamos chamar nenhuma forma de expressão de “certa” ou “errada”: vamos observar se está ou não adequada àquele receptor, ou ao contexto, ou ao assunto, combinado?
Sobre esse tema, leia um trecho de palestra proferida, na Academia Brasileira de Letras, por um eminente gramático chamado Evanildo Bechara.
"E agora, para terminar, retomemos o nosso tema inicial que é o
saber, a normal culta na democratização do ensino. O que vem a ser isso?
Vem a ser o seguinte. O professor deve convencer-se de que uma língua
histórica (português, francês, espanhol), não é uma realidade homogênea
e unitária; ela está dividida em várias línguas, de acordo com as
variedades regionais, as variedades sociais e as variedades estilísticas.
Cada variedade dessas tem uma tradição lingüística e essa tradição é
um modo correto, é uma maneira de correção da linguagem. Agora, todas
essas variedades lingüísticas confluem na língua exemplar, que é a língua
de cultura. Então, a língua exemplar não é nem correta, nem incorreta,
porque correto na língua é o que está de acordo com uma tradição. Se
existe, por exemplo, uma tradição coloquial que diz "chegar em casa",
esse é o padrão de correção na língua exemplar. Agora, o "chegar à casa"
já é uma eleição cultural, que é exclusiva da língua exemplar.
De modo que quando os consultórios gramaticais dos nossos jornais
falam: isto está certo, isto está errado - na realidade, não é isso. Cada
modo de dizer tem o seu padrão de correção; entretanto, todos esses
padrões convergem, por eleição, a uma forma exemplar. Essa forma
exemplar é a forma que está na língua literária, quando o escritor sabe
trabalhá-la artística, cultural e idiomaticamente.
Então, o que acontece? A democratização do ensino consiste em que o
professor não acastele o seu aluno na língua culta, pensando que só a
língua culta é a maneira que ele tem para se expressar; nem tampouco
aquele professor populista que acha que a língua deve ser livre, e
portanto, o aluno deve falar a língua gostosa e saborosa do povo, como
dizia Manuel Bandeira. Não, o professor deve fazer com que o aluno
aprenda o maior número de usos possíveis, e que o aluno saiba escolher e
saiba eleger as formas exemplares para os momentos de maior
necessidade, em que ele tenha que se expressar com responsabilidade
cultural, política, social, artística etc.
E isso fazendo, o professor transforma o aluno num poliglota dentro da
sua própria língua. Como, de manhã, a pessoa abre o seu guarda-roupa
para escolher a roupa adequada aos momentos sociais que ela vai
enfrentar durante o dia, assim também, deve existir, na educação
lingüística, um guarda-roupa lingüístico, em que o aluno saiba escolher as
modalidades adequadas a falar com gíria, a falar popularmente, a saber
entender um colega que veio do Norte ou que veio do Sul, com os seus
falares locais, e que saiba também, nos momentos solenes, usar essa
língua exemplar, que é o patrimônio da nossa cultura e que é o grande
baluarte que esta Academia defende."
Você entendeu o texto, claro. Hoje, consideram-se as variações linguísticas como absolutamente aceitáveis, sempre com a ressalva de que a norma culta deve ser conhecida e observada em situações formais.
a) CULTA
A norma culta é aquela que deve ser empregada, quando em situações formais, ou em textos científicos, acadêmicos. Não se permite ambiguidade na linguagem formal: a objetividade deve ser
o principal traço desse uso da língua.
"A supremacia da civilização ocidental, representada pelo
império norte-americano, carece de medidas e atitudes de nível
planetário que evitem ao máximo o rastro de destruição deixado em
seu curso expansionista. Há a urgência de uma racionalidade outra
que a do americanizado mundo contemporâneo.
Revista Cult, dezembro de 2001."
b) COLOQUIAL
Os objetivos na linguagem coloquial são outros: simplesmente se quer conversar, ou, escrever como se estivesse conversando. Há uma descontração presente no uso da língua; não se trata de cometer barbarismos contra a língua culta e, sim, adaptá-la, deixá-la mais pessoal. Na linguagem do dia-a-dia, por exemplo, podemos, usar frases como “Você pegou o que eu te pedi?. Formalmente, essa construção em que se misturam as pessoas gramaticais está inadequada:“você” indica 3a pessoa e “te” é um ronome oblíquo que se refere a 2a pessoa ; o correto seria dizer "Você pegou o que eu lhe pedi?"
"A Jô e a irmã dela acreditam que um vizinho antropólogo
mora em frente ao prédio delas. Quando fazemos coisas absurdas,
tipo ficar brincando de tocar percussão ou pulamos sem parar
gritando às 2h da manhã, alguma delas sempre disse. O vizinho não
deve estar entendendo nada. Ou... essa cena deve estar sendo
super importante para a tese de mestrado dele. Na verdade, elas
nunca pensaram que poderia ser tipo um tarado se divertindo com
duas loucas pulando pela sala de camisola
Folhateen, fevereiro de 2002."
c) REGIONAL
Há, também, variações que são regionais. Expressões que são usadas apenas em alguns lugares do país, formas diferentes de nomear um mesmo objeto ou uma mesma situação. Você, certamente, já observou algumas diferenças linguísticas ao falar com um a pessoa de outro Estado ou, às vezes, no interior, na zona rural de um Estado em relação à linguagem daquele que mora na zona urbana, enfim. Sobre esse aspecto das variantes linguísticas, leia mais um pouco da conferência de Evanildo Bechara:
"Afora essa dimensão no tempo, esse saber idiomático identifica
variedades que ocorrem numa língua histórica, isto é: variedades
regionais, que são os dialetos; variedades sociais, que são os estratos
sociais falados pelos diversos integrantes de uma sociedade; e o falar
regional, vale dizer, se um ato lingüístico (palavra, expressão ou frase) é
típico de uma região (por exemplo, o que no Brasil é trem, em Portugal é
comboio; o que em Portugal se opta por "estar a almoçar", no Brasil
preferimos "estar almoçando"; o que no Rio de Janeiro se chama "sinal
luminoso de trânsito", em São Paulo é "farol", mais para o Sul,
"semáforo", e em Porto Alegre, "sinaleira")."
Vejamos outras variações: a média em São Paulo é “café com leite”; em Santos, é um “pãozinho”. Pãozinho, em Itu- SP, é filão; em São Paulo, capital é um “pão grande”.
Bem, vamos ler um exemplo literário, um fragmento do conto “Bicho Mau” de Guimarães Rosa
"Seo Quinquim olhou, também. Teria por gosto aproveitar uma curta
folga. Colher um ananás? Não, dava muito trabalho. E estão azedos,
decerto, apertam na língua, piores do que o gravatás. Seo Quinquim
se mostra alegre,. Às vezes banzativo, ora a dar um ar de riso, ele
está nos dias de ser pai. Não tardava mais uma semana..."
d) GÍRIA
A gíria é, na verdade, uma maneira de um grupo, que guarda afinidades quanto à ideologia, ou à faixa etária, ou à condição sócioeconômica, enfim, algum tipo de traço característico, que passa para a forma de expressão lingüística. Algumas palavras da gíria passarão a compor nosso vocabulário, perdendo a identidade antes conferida apenas a um grupo. Veja um exemplo, retirado de uma excelente questão de Vestibular, na qual se explorava os diferentes níveis de linguagem:
Massa
"Pó, Erundina, massa! Agora que o maneiro Cazuza virou nome num
pedaço aqui na Sampa, quem sabe tu te anima e acha aí um point
pra botá o nome de Magdalena Tagliaferro, Cláudio Santoro (...) e
Radamés Gnattali. Esses caras não foi cruner de banda a la
“Trogloditas do Sucesso”, mas se a tua moçada não manjar quem
eles foi, dá um look aí na Enciclopédia Britânica ou no Groves
International e tu vai sacá que o astral do século 20 musical deve
muito a eles."
Esse texto é do maestro Júlio Medaglia, em uma carta publicada no Painel do leitor do jornal Folha de S.Paulo. Ele faz uso de uma linguagem que certamente não é a dele, para fazer uma crítica a uma decisão da então prefeita Luiza Erundina (melhor dizendo, aos administradores públicos em geral) que, em nome do populismo, preocupam-se em dar nomes de ídolos populares aos logradouros públicos.
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